#30 Tavria Simferopol 1992
No dia de Natal em 1991, um senhor chamado Mikhail Gorbachov (o da perestroika, reconstrução económica, e da glasnost, transparência política) anuncia o fim da URSS. Perde-se o encanto, no campo desportivo. Além de ficarmos sem saber exactamente qual o país de origem do grande, enorme Ivan Drago do “Rocky IV” (russo, georgiano, ucraniano, bielorrusso, moldavo?), a 1.ª divisão de futebol é fragmentada.
Completamente. Desaparece a URSS e nascem 15 estados independentes (Draaaago, és de qual?). Contas feitas aos campeonatos soviéticos desde 1936 até 1991, o campeão dos campeões é o Dínamo Kiev (Ucrânia), com 13 títulos. Atrás, Spartak Moscovo (Rússia) com 12 e Dínamo Moscovo 11. Seguem-se-lhe mais dois moscovitas (CSKA 7, Torpedo 3) e chegamos enfim à Geórgia (Dínamo Tbilisi 2, como o ucraniano Dnipro). A lista desagua com clubes arménios (Ararat Erevan) e bielorrussos (Dínamo Minsk), ambos com um.
No último campeonato da URSS, o tal de 1991, Moscovo domina. Ao campeão CSKA acrescem Spartak (2.º), Torpedo (3.º), Dínamo (6.º) e Lokomotiv (16.º e último). O sexto elemento russo é o Alania (11.º). Sobram portanto 14: seis da Ucrânia (Chernomorets 4.º, Dínamo Kiev 5.º, Dnipro 9.º, Shakhtar 12.º e Metalist 15.º); uma da Arménia (Ararat 7.º), outra da Bielorrússia (Dínamo Minsk 8.º), uma ainda do Tajiquistão (Pamir 10.º) e acabamos com Usbequistão (Pakhtakor 14.º).
Em 1992, inicia-se uma nova era. Em todos os sentidos. No futebolístico, a Ucrânia divide-se em duas séries de dez, num curto campeonato de Fevereiro a Junho. Na Série A, o Tavria adianta-se ao Shakhtar Donetsk. Na B, o Dínamo Kiev impõe-se ao Dnipro. Na final, a uma só mão, no dia 21 Junho, em Lviv, onde Portugal iniciaría a campanha do Euro-2012, o Tavria ganha 1-0.
É a equipa treinada por Anatoly Zayaev, um treinador carismático com anos e anos de casa. Ao todo, treina 18 vezes o Tavria. O plantel é engraçado, o guarda-redes suplente Gulnekov, de nacionalidade russa, veste o número 10 – o titular Kolesov é o 12. O defesa Alibaev é o 1, o goleador Hudymenko o 9 e o herói Shevchenko o 20.
Shevchenko, o tal? Calma, é outro, um pré-Andrei chamado Serguei e é capitão de equipa. O seu golo aos 75’ faz do Tavria o primeiro campeão de sempre da Ucrânia – segue-se o reinado de Dínamo Kiev (16) e Shakhtar Donetsk (13). O feito vale a primeira presença na UEFA, e logo na Taça dos Campeões. Na pré-eliminatória, dobra o Shelbourne com 0:0 em Dublin e 2:1 em Simferopol, capital da Crimeia. Na ronda seguinte, o Sion é forte demais com 4:1 e 3:1. Feitas as contas, Shevchenko marca três dos quatro golos europeus.
Com o passar dos anos, o Tavria passa a figura secundária e até vai à 2.ª divisão. Quando estala a invasão russa na Crimeia, em 2014, o Tavria faz finca-pé e rejeita ser incluída na liga russa. Até hoje.
Eis a campanha (a negrito, os jogos fora)
Torpedo Zaporizhia 2:0 Shevchenko / Volkov
Shakhtar Donetsk 1:1 Shevchenko
Karpaty Lviv 2:0 Hudymenko / Novikov
Temp Shepetivka 0:1
C’nomorets Odessa 1:0 Gladyshev
Evis Mykolaiv 1:0 Shevchenko
Metalurh Zaporizhia 2:2 Andreev / Gladyshev
Nyva Vinnytsia 1:0 Hudymenko
Kremin Kremenchuk 1:1 Shevchenko
Nyva Vinnytsia 4:1 Hudymenko-2 / Shevchenko / Gladyshev
Kremin Kremenchuk 3:0 Gladyshev / Hudymenko / Shevchenko
Metalurh Zaporizhia 2:1 Hudymenko-2
C’nomorets Odessa 0:0
Evis Mykolaiv 2:1 Shevchenko / Oparin
Karpaty Lviv 1:0 Andreev
Temp Shepetivka 6:0 Hudymenko-4 / Gladyshev-2
Torpedo Zaporizhia 1:1 Hudymenko
Shakhtar Donetsk 0:0
Dínamo Kiev 1:0 Shevchenko