Great Scott #679: Único jogador expulso no banco de suplentes em Mundiais?

Caniggia

Expulsão, ora aí está uma palavra sui generis para Caniggia. Que o diga Jorge Coroado a propósito daquele toma lá este amarelo, toma lá este vermelho no dérbi entre Benfica e Sporting na Luz, em 1995.

Passam-se sete anos, Caniggia já tem 35 anos e um currículo digno. Se fizermos zoom aos Mundiais, o bom do Claudio marca dois golos em 1990 (Brasil 1:0, Itália 1:1) e mais dois em 1994 (Nigéria 2:1). Faz uma pausa em 1998 e só regressa em 2002. O Mundial Coreia/Japão está aí à porta e o seleccionador Marcelo Bielsa quer reabilitar Caniggia, afastado da Argentina no Mundial-98 por ter estado um ano sem jogar devido ao suicídio da mãe (atira-se de um quinto andar) e também por se recusar a cortar o cabelo à moda de Passarella.

Agora é diferente. Ou melhor, o corte de cabelo de Caniggia está igual. O que muda é a atitude do treinador. Bielsa confia no instinto matador. Em 2002, já com 35 anos, Caniggia continua em forma. A prová-lo, os dois golos na final da Taça da Liga escocesa pelo Rangers. “Se vocês [jornalistas] acreditarem nele como eu, estamos lançados”, sorri Bielsa.

Caniggia é suplente no primeiro jogo (1:0 vs. Nigéria), no segundo (0:1 vs. Inglaterra) e também no terceiro, vs. Suécia. Só vale a vitória. Ou então o empate, caso a Nigéria vença a Inglaterra. Mas o 0:0 teima em ser o resultado e isso obriga a Argentina a superar os suecos. O jogo é áspero, a Suécia joga para o empate e não tem rodeios em maltratar o cerebral Ortega.

À quinta falta sobre o 10 argentino, aos 46 minutos, Caniggia levanta-se do banco e gesticula na direcção do árbitro. Ali Bujsaim, dos EAU, pede-lhe calma. Caniggia continua, Ali ameaça-o, Caniggia provoca e vê estrelas. Vermelho directo. É como ir para a prisão sem passar pela casa de partida no monopólio.

Caniggia é o único jogador do mundo a ser expulso de um Mundial sem ter feito um único minuto. “Perdi a cabeça, admito, mas eles estavam a abusar do Ortega.” E assim continua: acaba 1-1 e a Suécia elimina a Argentina, um dia depois do adeus da França e dois dias antes do de Portugal.