#65 Estrela da Amadora 1989-90
Mundo de aventuras. O do Estrela em 1989-90. Até então, nunca uma equipa precisa de cinco prolongamentos ao longo da prova para levantar a Taça de Portugal.
O primeiro adversário é o Estoril muito jovem, treinado por Fernando Santos e candidato à subida na 2.ª divisão de honra. Na Reboleira, a tarde é de golos perdidos entre os oito marcados, os três primeiros de cabeça, por Pedro Xavier, Ricky e Borreicho (na própria baliza). Na altura, João Alves rejeita a ia ao Jamor. ‘A Taça depende sempre do sorteio, vamos ver com quem jogamos na próxima eliminatória. Até lá, vamos concentrarmo-nos no campeonato.’
O sorteio dá Braga, novamente na Reboleira. O teimoso zero-zero dura os 120 minutos, por culpa do guarda-redes bracarense Luís Manuel, e obriga a desempate, no 1.º de Maio. Aí, mais um empate, agora a um golo, obra de Radi e Duílio, ambos de livre directo, ambos na primeira parte. O marcador só se volta a mexer no desempate por grandes penalidades. E que desempate. Ao todo, 22 remates. Todos os jogadores atiram à baliza, acaba 9:8 (o herói é Barny) e os dois guarda-redes Melo + Luís Manuel falham o alvo.
A viagem seguinte é também a Norte, mais precisamente a Marco de Canaveses. Mora lá o Marco, último classificado da 2.ª divisão, zona norte. E o Estrela arruma o assunto na primeira parte, com um solitário golo de Ricky, de cabeça, após cruzamento da esquerda de Paulo Jorge.
Segue-se o Tirsense, na Amadora. O Estrela é favorito e entra determinado em campo para provar esse estatuto. Mais uma vez, o primeiro golo sai antes do intervalo, cortesia Basaúla e com a preciosa ajuda do guarda-redes Lúcio, autor de um senhor frango. No banco, Neca está desolado. ‘Falhou a estratégia: roubar o ritmo ao Estrela’.
O quadro das ½ final apresenta três equipas de primeira e uma de segunda. Ao Estrela sai-lhe o Vitória SC, na Reboleira. Aos 15 minutos, penálti de Rui Neves sobre Chiquinho. Chamado a bater, João Baptista engana Melo e indica o Jamor ao Vitória. Puro engano, o Estrela empataria aos 43’, num cabeceamento de Ricky, na sequência de um centro da esquerda de Baroti. O 1:1 mantém-se até ao 120.º minuto, culpa de um Ricky desastrado. ‘Todos falham, faz parte do nosso trabalho dentro da área.’
O desempate é em Guimarães, onde o Vitória começa a ganhar com um golo de Chiquinho a aproveitar um choque entre Melo e Duílio. O Estrela, mais uma vez, vai atrás do empate. E consegue-o à beira do intervalo, pelo capitão Duílio. Há um livre para a área, a bola embate em Germano e o central brasileiro está solto na área para o mais fácil. O nó do 1:1 só se desata aos 114 minutos, num contra-ataque executado pelo lateral-esquerdo Caetano e concluído por Basaúla entre os centrais vimaranenses.
O fair-play é a palavra de ordem no balneário do Vitória, através do treinador Paulo Autuori. ‘A vitória do Estrela é merecida. Temos de saber perder, já que não soubemos ganhar.’ Aliás, o próprio Autuori já dera um sinal de categoria máxima ao cumprimentar João Alves pouco antes do apito final. No lado do Estrela, a festa natural da ida ao Jamor e ainda o prémio de 100 contos para cada jogador.
A final da Taça é a da classe baixa, entre Estrela e Farense. A romaria ao Jamor é intensa e o espectáculo é bonito de ver. E de se seguir. Na despedida do árbitro Manuel Nogueira, o primeiro golo da tarde só aparece no prolongamento, aos 93’, pelo suplente Nélson Borges, com um remate enrolado a enganar Lemajic. Mais à frente, aos 114’, o avançado Fernando Cruz empata e obriga a uma finalíssima, no dia 3 Junho.
Jamor, take 2. Outra festa bonita, algazarra boa. O Estrela faz valer a sua força de candidato (o Farense ainda está a jogar para o título da 2.ª divisão, zona sul) e marca um golo em cada parte. O primeiro é de Paulo Bento, num extraordinário remate de fora da área. O segundo é de Ricardo, isolado por Baroti.
O Estrela ganha a Taça pela primeira vez, apura-se para a Taça das Taças e, como se isso fosse pouco, o seu autocarro é alvo de uma bela homenagem por parte dos motards de Faro com um corredor humano à saída do estádio.
(a negrito, os jogos fora)
Estoril | 6:2 | Pedro Xavier-2 / Ricky / Borreicho (pb) / Ricardo / Duílio |
Braga | 0:0* | |
Braga | 1:1* | Duílio (9:8 penáltis) |
Marco | 1:0 | Ricky |
Tirsense | 1:0 | Basaúla |
Vitória SC | 1:1* | Ricky |
Vitória SC | 2:1* | Duílio / Basaúla |
Farense | 1:1* | Nélson |
Farense | 2:0 | Paulo Bento / Ricardo |
*após prolongamento