Great Scott #991: Primeiro negro a marcar pela selecção inglesa?

Great Scott Mais 03/13/2024
Tovar FC

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Great Scott #991: Primeiro negro a marcar pela selecção inglesa?

Blissett

Luther Loide Blissett é da Jamaica. Nasce em Falmouth, a 1 Fevereiro 1958. Numa cidade com belas praias e forte sotaque inglês ainda com raízes da época colonial, o rapaz tem a ideia fixa de jogar à bola. Aos 17 anos, o sonho cumpre-se. E em Inglaterra. Pela mão de Elton John, então presidente do Watford, que lhe abre as portas no clube da 4.ª divisão.

Oito anos depois (1983), com o Watford já na 1.ª, Blissett mantém-se entre os grandes, graças à sua veia goleadora (27 golos em 34 jogos). Até a selecção inglesa conta com ele. Na estreia, três golos ao Luxemburgo (9-0) – é, aliás, o primeiro negro a marcar pela Inglaterra. Blissett é um avançado letal no jogo aéreo (bem ao jeito dos ingleses), mas desajeitado com os pés (idem, idem).

Por um milhão de libras, o jamaicano vai parar ao Milan, em 1983. Vítima da cor da pele (é o segundo negro da história do clube, após o brasileiro Amarildo nos anos 60), Blissett é mais assobiado que a equipa adversária. Resultado: apenas seis golos em 35 jogos. Com este registo, o Milan recambia Blissett para o Watford, no ano seguinte. Por lá permanece nove épocas e consagra-se como melhor marcador do clube, estatuto ainda hoje mantido, à conta de 158 golos em 415 jogos (outro recorde ainda em vigor do Watford).

É precisamente nesse ano que nasce outro Luther Blissett. Em Bolonha, na dita cidade vermelha por representar o coração da Itália comunista, um grupo de quatro jovens anarquistas decide resgatar da lama o nome do futebolista e torná-lo mundialmente conhecido, como ícone de um processo revolucionário que perdura no tempo e na memória. Para tal, os membros do grupo, autodenominados ‘guerrilheiros da contracultura’, começam por criar uma página web falsa do Vaticano, copiam o design original do www.vatican.ya, introduzem textos heréticos e chamam a João Paulo II Sicário de Cristo em vez de Vigário de Cristo.

Depois, bem depois, roubam quatro imagens de santas em diferentes igrejas e enviam comunicados em que exigem às autoridades eclesiásticas a distribuição de 100 milhões de liras, ou o seu equivalente em alimentos, entre os pobres. Em seguida, o novo Luther Blissett publica o livro “Q”, romance medieval de 700 páginas que chega aos 200 mil exemplares em Itália. Os quatro jovens de Bolonha assinam o livro com o pseudónimo Luther Blissett e trocam o copyright pelo copyleft.

Uma brincadeira que permite a reprodução total ou parcial da obra, sempre que não seja para fins lucrativos. Quem é este novo Luther Blissett? Na verdade, ninguém sabe. É, isso é certo, um pseudónimo de multiutilizadores, uma identidade em aberto, adoptada e partilhada por centenas de hackers, activistas e operadores culturais em vários países.

O LBP (Luther Blissett Project) é uma lenda, espécie de herói popular, um Robin dos Bosques da era da informação que passa notícias falsas à comunicação social e coordena campanhas de solidariedade heterodoxas com vítimas da repressão.

O que é o Luther Blissett Project? O manifesto luterano ajuda a explicar: “Luther Blissett é um sujeito desalinhado. Qualquer um de nós pode ser Luther Blissett adoptando o nome. Transforma-te em Luther Blissett.” Eu, tu, nós, vós, eles. Todos.

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