Totobola – 9 Setembro 1973
A revolução dos cravos ainda não saíra às ruas, Portugal vive ainda o mito do orgulhosamente sós. Antes, muito antes, em Setembro de 1973, a revolução no futebol português, com a jornada mais extraordinária de sempre da 1.ª divisão, com nenhum dos três grandes a conseguir pontuar nem sequer a marcar um golo que fosse. É a primeira e única vez na história, o que diz bem da falta de tudo do nosso campeonato. Adiante, estamos em Setembro 1973. O sorteio determina que os três grandes joguem fora na jornada inaugural.
O Benfica vai ao Bessa, o Sporting ao Bonfim e o FC Porto ao Restelo. Às 15 horas de domingo, começam os jogos. Ao intervalo, tudo 0:0. Na segunda parte, surpresa geral. O brasileiro Salvador (Boavista) é o primeiro a marcar. Cinco minutos depois, é a vez de Matine (Vitória FC), para azar do Sporting, que abre o campeonato da mesma forma que fecha o anterior: com uma derrota no Sado. Só falta o Porto cair também. E é o que acontece aos 75’, no Restelo. Antes do fim, mais um golo no Bessa, 2:0 ao campeão em título Benfica.
Em Espanha, quase mais do mesmo: Barça de Michels (ainda sem Cruijff) empata a zero em casa vs Racing e Real Madrid (com estreia de Del Bosque) empata em Granada. Caabbbuuuummmmm. É daqueles Totobolas sem totalistas. Óbvio. Nem 12 apostas certas, quanto mais.
FARENSE-CUF X
Nada faz prever este desfecho, pela voracidade inicial do Farense. Aos cinco minutos, 1:0 de Farias. Aos seis, 2:0 de Florival. A vida é bela. Ou não. A CUF mexe ao intervalo, com a entrada de Juvenal para o lugar de Vítor Pereira. A substituição faz-se sentir no modo de jogo e chega-se ao empate em sete minutos, com um bis do guineense Arnaldo (59’ e 66’)
ORIENTAL-MONTIJO X
Pelado à séria, daqueles que nos fazem sonhar a fazer carrinhos a torto e a direito. Sol a pique, como se fosse o Mundial-70. Um espectáculo digno de se ver. As bancadas cheias de gente, ávidas de bola. José Carlos abre o marcador para o Oriental (21’), o empate pertence ao madeirense Eurico (31’)
BELENENSES-PORTO 1
Quaresma, outra vez. Autor de dois golos sobre o Porto na 1.ª divisão da época anterior, o central garante a vitória ao Belenenses de Scopelli. No outro lado, à guarda da baliza portista, Tibi afirma-se finalmente como um titular de categoria internacional, um ano depois de passar pela recruta e a especialidade no serviço militar
LEIXÕES-GUIMARÃES 2
Jogo de sábado à tarde, em Matosinhos, com duas equipas bastante jovens a dar que falar. E jogar. Manda mais o Vitória, único visitante a ganhar na jornada de abertura. O internacional júnior Abreu abre o livro e é o autor das assistências para os golos de Ibraim (20’) e Romeu (87’)
BOAVISTA-BENFICA 1
Campeão invicto em 1973, com 24 vitórias e dois empates, o Benfica vê o seu recorde cair logo à primeira, no Bessa. O extremo brasileiro Salvador marca o primeiro da tarde, numa jogada de rápido contra-ataque, após alívio/desmarcação de Mário João. Perto do fim, o suplente Moura tem um remate mais em jeito do que em força sem qualquer hipótese para Zé Henrique. Dois-zero, game over.
SETÚBAL-SPORTING 1
Cinco contos é o prémio do Vitória pela vitória. Seis contos é o do Sporting. Decide um golo de livre directo de Matine, a castigar falta desnecessária de Bastos sobre José Maria. Na marcação, Octávio e Jacinto João passam por cima da bola ao mesmo tempo, só depois é que Matine atira colocado. Botelho nem se mexe, 1:0 no Bonfim, começa assim a aventura do futuro campeão Sporting
BARREIRENSE-ACADÉMICA 1
Astrogildo Abreu da Fontoura. Anote o nome bem brasileiro, é ele quem sela o sucesso barreirense, com um remate sesgado aos 73 minutos. Até aí, a Académica de Sousa Arantes (outro brasileiro) joga assim como quem não quer a coisa, com o rei na barriga. Daí à surpresa é um passo – amargo, está bom de ver
BEIRA-MAR-OLHANENSE 1
Muda aos três (2:1), acaba aos seis (4:2). Em Aveiro, o Mário Duarte é palco de golos atrás de golos. Quatro para o Brasil, através de Édson, Alemão, Édson (todos do Beira-Mar) mais Ademir (Olhanense), e dois para Olhão (o central Fernando, na própria baliza, e o lateral-esquerdo Zezé).
GRANADA-REAL MADRID X
É a estreia de Del Bosque pelo Real Madrid. Como jogador, atenção. Entra na segunda parte a substituir Velázquez, já com o resultado feito, traduzido pelos golos de Santillana (10’, a passe de cabeça de Pirri) e Echecopar (16’, penálti a castigar falta do líbero Touriño).
MURCIA-R. SOCIEDAD X
Dois pontos de vistas bem distintos. O Murcia abre as portas ao mundo, com cinco estrangeiros (entre três argentinos e dois paraguaios), e a Real cem por cento espanhola. Acaba em empate, com dois golos dos bascos. O primeiro na baliza certa, por Araquistain (18’), o segundo na própria, por Luciano Murillo (30’)
AT. BILBAO-ESPANHOL 1
É a reedição da final do famoso torneio veraniego Ramón Carranza. Em Cádis, ganha o Espanyol com um golo de De Diego. Um mês depois, na catedral San Mamés, em Bilbau, o Athletic vinga-se com outro 1:0, da autoria de Zubiaga, cujo remate passa por uma floresta de jogadores.
OVIEDO-LAS PALMAS 1
No Estádio Carlos Tartiere, casa de Abel Xavier e Paulo Bento nos anos 90, o Oviedo cumpre os mínimos e ganha com um golo de Marianín. O Las Palmas lança-se então ao ataque e passa os últimos 40 minutos no meio-campo adversário a fazer tiro ao boneco. Que se chama César e é eleito o melhor em campo pela imprensa.
AT. MADRID-VALÊNCIA 1
No centésimo jogo do treinador Alfredo di Stéfano na Liga pelo Valencia, quem leva a melhor é o seu compatriota Juan Lorenzo. Se bem que o Atlético sofra o primeiro golo do jogo no Calderón, por Valdez (mais um argentino), a resposta é em três tempos. Gárate empata e desempata. Cabe a Luis Aragonés o 3:1 final.