Parabéns Euro, 60 anos de vida
1960 URSS 2:1 Jugoslávia
O Campeonato da Europa encontra os seus mais remotos subsídios em 1927, quando o francês Henri Delaunay, então dirigente da FIFA e um dos arquitectos da organização do Mundial, motivado por Jules Rimet, propôs a ideia pela primeira vez. Só em 1952 é que o projecto vai avante, quando os contactos internacionais decorrem ainda sob os auspícios de boa vontade de uns quantos fervorosos adeptos do futebol, para quem o intervalo entre cada edição do Mundial, de quatro em quatro anos, representa jejum de vulto.
Nesse ano, o dirigente italiano Ottorino Barassi lança a primeira pedra, ao liderar um movimento tendente à criação de uma entidade que superintenda o futebol europeu, à boa maneira do que já acontece no outro lado do Atlântico, com a Confederação Americana. Lançadas estão as bases para a UEFA, nascida em 1954. Ao mesmo tempo, Barassi avança com a proposta de realização de uma prova entre selecções europeias, numa réplica (em ponto pequeno, está claro) do Mundial, para o que conta com o apoio entusiástico do francês Henri Delaunay, então secretário-geral da recém-formada UEFA.
Henri Delaunay (que viria a falecer em 1955) teria no seu filho Pierre o continuador da tarefa, com vista à criação do Campeonato da Europa. Pierre Delaunay, juntamente com o espanhol Pujol e o húngaro Sébes, entre outros, forma uma comissão que, em Fevereiro 1957, apresenta à UEFA o projecto em estudo. Aprovada nas suas linhas gerais, a competição arrancaria em Abril 1958.
Dezassete concorrentes (incluindo Portugal) garantem o arranque desta nova aventura. RFA, Bélgica, Itália e Inglaterra – esta, como sempre, renitente em participar em provas cuja idealização não lhe pertencera – optam pela ausência e, por isso, o reduzido lote de participantes. A Taça Henri Delaunay (assim designada em homenagem ao seu principal impulsionador) começa e a França, cuja fase final lhe seria confiada, não tem dificuldades frente à menos cotada Grécia, ao mesmo tempo que URSS, Áustria, Portugal e Espanha se cotavam como os únicos países a assinarem duplo êxito, em casa e fora. Nos quartos de final, França e Checoslováquia derrubam os rivais, enquanto Portugal é afastado pela Jugoslávia e a URSS passa adiante, por desistência de uma Espanha então pouco dada a “aberturas” a Leste
E chegámos à fase final. Na qualidade de anfitriã, a França defrauda as expectativas. Logo nas meias-finais, a desilusão. Já sem os magníficos Fontaine, Kopa e Piantoni (que, dois anos antes, haviam garantido um terceiro lugar no Mundial da Suécia), os franceses deixam-se surpreender pela Jugoslávia por um nada usual 5-4. E o incrível é que, a 15 minutos do fim, está 4-2 para os da casa. A reviravolta jugoslava demora apenas 240 segundos e conta com a preciosa colaboração do guarda-redes Lamia, autor de três senhores frangos. Quase à mesma hora, a URSS, onde jogam o grande Yashin mais Netto e Ponedelnik, despacha a Checoslováquia por 3-0 e atinge a final com os jugoslavos, no dia 10 de Julho.
Uma final que se estende por duas horas, com vencedor conhecido apenas a sete minutos do final, aos 113’, cortesia Ponedelnik, de cabeça. Antes, Galic havia batido Yashin perto do intervalo (43’) e Metreveli igualara a abrir a segunda parte (49’). A URSS arrebata assim o primeiro título, em Paris, no Parque dos Príncipes. Nesse mesmo dia 10, e antes da final, a anfitriã França perde o acesso ao pódio (2-0 da Checoslováquia). Há 56 anos, o factor casa não é mesmo nada talismã. A situação seria rectificada 24 anos depois, em 1984. E não mais repetida, por culpa do Eder.
1964 Espanha 2:1 URSS
Alfredo di Stéfano, Ladislao Kubala e Luis Suárez. Numa altura em que ainda é possível um jogador acumular internacionalizações por duas ou mais selecções, a Espanha chama a si o favoritismo para a vitória do primeiro Europeu de sempre, em 1960. Tal não se concretiza e a responsabilidade nem é de um árbitro equivocado, de um guarda-redes adversário inspirado ou de um avançado sem pontaria. A culpa é de Franco, general de seu prefixo.
A Guerra Civil de Espanha acabara há 21 anos e Franco continuava fechado no seu mundo. Quando o sorteio dos quartos-de-final dita o confronto com a URSS, a Espanha desiste por decisão do Conselho de Ministros, então pouco dado a aberturas a Leste. No Europeu seguinte, em 1964, a UEFA nomeia a Espanha como organizadora. Já sem os estrangeiros Di Stéfano e Kubala, Espanha toma conta do recado com as duas Irlandas e apura-se para o Europeu propriamente dito. A acompanhá-la, Hungria, Dinamarca e URSS.
Na quinta-feira de manhã de 18 Junho 1964, a três dias da final, dá-se o primeiro encontro entre as duas delegações para o sorteio dos equipamentos e dos árbitros. Ao inglês Arthur Holland sai a rifa de apitar a final entre os soviéticos vestidos de preto e os espanhóis de azul. Ao mesmo tempo, as perguntas flutuam no ar. Irá Franco ao jogo? Como reagirá o chefe de Estado em caso de derrota frente à representação do seu grande inimigo ideológico? Qual será o comportamento do público? Todas estas interrogações, e outras, respondem-se na tarde de 21 Junho, dia de São Luís, que amanhece chuvoso, e assim continuaria, com especial insistência durante a segunda parte. O Estádio Chamartín, casa do Real Madrid, enche-se com 120 mil pessoas e Franco vai a jogo.
Escutados os dois hinos e hasteadas ambas as bandeiras, começa o jogo. Aos cinco minutos, Suárez desce pela direita e cruza para a área. Os centrais Shustikov e Shesterniev atrapalham-se com a bola e é Pereda quem se intromete para fazer o 1-0. Yashin, o Bola de Ouro, não tem hipótese de impedir aquele que continua a ser o golo mais rápido em finais de Europeus. Ainda se ouvem aplausos entusiásticos quando Ivanov passa ao extremo Khusainov e este surpreende Iribar com um remate cruzado, entre as pernas de Fusté e Olivella. Aos oito minutos, 1-1.
A partir daqui, equilíbrio de forças com as linhas de cada selecção a revelarem uma grande solidez e um generoso esforço físico. A segunda parte é mais do mesmo, com a tal chuva a cair insistentemente. É aí que surge o 2-1. A jogada começa num passe mal feito de Ivanov para Khusainov. O lateral Rivilla recupera a bola, galga uns metros e passa-a a Pereda, que, sem demoras e marcado em cima por Mudrik, cruza a dois palmos do solo. Num sensacional voo rente à relva, o avançado Marcelino cabeceia e a bola entra encostada ao poste esquerdo de Yashin. Está escrita a vitória. Aquela do campo, e não só.
1968 Itália 2:0 Jugoslávia
O futebol de antigamente é que era, defendem os românticos. Claro que damos o braço a torcer quanto à adesão popular aos estádios, ao horário dos jogos, às jornadas ao domingo e à escassa intromissão televisiva, mas há excepções. Antigamente, o Euro é só para quatro selecções. Em 1968, Itália (anfitriã), URSS, Jugoslávia e Inglaterra – em relação às meias-finais do Mundial dois anos antes, Portugal e RFA substituídos por Itália e Jugoslávia. E não é que as finalistas são estas duas selecções?
A Jugoslávia surpreende a Inglaterra com um golo de Dzajic aos 86’, a Itália elimina a URSS no recurso à moeda ao ar após o teimoso 0-0 aos 90 e aos 120 minutos. Chegámos, pois, ao 8 Junho. O Estádio de Roma engalana-se para receber os dois jogos. Dois? Sim senhor, terceiro e quarto lugar às 18h00 e final às 21h15. Bobby Charlton e Geoff Hurst resolvem o jogo da consolação (2-0) debaixo de chuva miudinha e do coro de assobios dos adeptos romanos ao implacável defesa Nobby Stiles sempre que este toca na bola.
Venha de lá essa final. A jogar em casa, a Itália não pega no jogo nem sabe como fazê-lo. Joga à defesa mas porquê se está 0-0? Mais confortáveis, os jugoslavos trocam a bola – e as voltas à cabeça dos italianos. Zoff é o 112 da squadra azzurra. Defende tudo, tudo, menos o remate de Dzajic (sempre ele) aos 39 minutos. Por alguma razão, é eleito o melhor em campo pela imprensa internacional, seja espanhola, inglesa ou portuguesa, com nota máxima (5).
A Itália congela e só depois reage, atabalhoadamente. Desanima claramente os 100 mil espectadores. Mais ainda os milhões de telespectadores que vêem o jogo através da RAI com narração de Nicolò Carosio, de 69 anos de idade, comentador italiano de rádio das finais dos Mundiais 1934 e 1938, já reformado e contratado especificamente para relatar a final. O árbitro suíço Gottfried Dienst não é neutro como deve, mas sim extremamente caseiro (já o fora na final do Mundial-66: lembra-se do golo fantasma, o do 3-2 da Inglaterra à RFA?) e o empate nasce na enésima invenção à entrada da área dos jugoslavos.
Chamado a marcar, Domenghini liberta o grito do golo. A dez minutos do fim, quando as bandeiras no estádio já estão a meia haste, antevê-se prolongamento. Mas nem assim. Aquela meia hora extra é como se não existisse. Há cansaço extra, está visto. E agora? As regras são explícitas: em caso de empate, recorre-se a uma finalíssima dois dias depois. No dia 10, no mesmo Olímpico de Roma, a Itália enche-se de brio e ganha 2-0, golos de Riva (11’) e Anastasi (32’). É aqui que Zoff começa a sua lenda. Como melhor jogador do Euro-68, e capitão do glorioso Mundial-82. “Nós não merecíamos ter ido à finalíssima”, admite o guarda-redes italiano, “mas fomos superiores aos jugoslavos no segundo jogo.”
1972 RFA 3:0 URSS
Deutschland. Mesmo dito com um sorriso nos lábios e a voz mais doce do mundo, continua a soar o nome de um bicho papão para amedrontar as criancinhas que se recusam a comer a sopa. Depois, a designação da federação como Deutscher Fußball-Bund também não tem um ar nada simpático. A isto acrescente-se a camisola totalmente branca à excepção da gola redonda preta com o símbolo DFB na parte do coração. Portadores desse equipamento Beckenbauer (líbero), Höttges (lateral-direito), Schwarzenbeck (central), Breitner (lateral-esquerdo), Wimmer (trinco), Hoeness (médio interior), Netzer (maestro), Heynckes (goleador), Müller (bombardeiro) e Kremers (simplesmente avançado).
Esquecemo-nos do guarda-redes Maier de propósito. Ele faz parte dos 55 mil espectadores no Heysel, em Bruxelas, a assistir àquele espectáculo inesquecível de futebol total. A final do Euro-72 entre RFA e URSS é de sentido único. Nos primeiros cinco minutos, os alemães já contabilizam quatro remates. Ao quinto, Hoeness acerta no poste (11’). Ao sexto, Heynckes incomoda Rudakov, que não tem como se defender convenientemente do sétimo, da autoria do gordito Gerd Müller. Aos 27 minutos, 1-0. Sem tirar o pé do acelerador, o festival ofensivo da RFA cifra-se em 11-1 nos remates à baliza só na primeira parte.
O segundo tempo é igual. A URSS, que eliminara a Hungria nas meias-finais (1- 0), nunca consegue desatar o nó da sua defesa quanto mais sair do seu meio-campo com a bola controlada. A diferença entre as duas selecções é gritante e o 3-0 final até é escasso para o domínio avassalador dos germânicos, verdadeiramente inspirados. Se a Holanda propagandeia o futebol total em 1974, precisamente no Mundial da RFA, é a mesma RFA que o apresenta oficialmente dois anos antes. Tanto assim é que o 2- 0 é do trinco Wimmer, num delicioso contra-ataque com a contribuição de Heynckes – esse mesmo, o futuro treinador do Benfica e, então, um fabuloso avançado do M’Gladbach.
O três-zero é por conta de Müller, o melhor marcador do torneio com quatro golos – os outros dois vs anfitriã Bélgica, que afastara Portugal na fase de qualificação. Assim como quem não quer a coisa, a RFA decide a final aos 58 minutos. Os soviéticos nada podem fazer para contrariar a harmonia e excelência do adversário e atenção que eles já estão avisados ao que vão, depois do particular no mês anterior (26 Maio), por ocasião da inauguração do Olímpico de Munique para os Jogos Olímpicos (de má memória) desse ano.
Nessa noite, a URSS é esmigalhada por 4-1. Gerd Müller (sempre ele!) marca os quatro, dos 49 aos 65 minutos. Só depois Konkov tem direito ao golo de honra (73’). Na final do Euro, nem isso.
1976 Checoslováquia 2:2 RFA
Southall; Stevens, Ratcliffe, Mountfield e Van den Hauwe; Steven, Reid, Bracewell e Sheedy; Sharp e Andy Gray. Até falarmos com o herói do Euro-76, só conhecíamos uma outra pessoa que sabia de cor e salteado a equipa do Everton, vencedora da Taça das Taças 1984/85. Português de gema, formado na escola da vida entre Prazeres e Campo de Ourique, Jam é uma pérola. Sim, Jam (chamemos-lhes assim para despistar os interessados em conhecer tal pessoa com este perturbante grau de conhecimento do futebol inglês de há 40 anos). Mas não é o único, há mais um cromo para juntar à colecção. Chama-se Antonin e é o autor do mundialmente famoso penálti à Panenka.
No dia 20 Junho 1976, a capital jugoslava Belgrado recebe a final do Europeu entre a RFA, detentora do ceptro e também actual campeã mundial, e a Checoslováquia, a surpresa do torneio depois de eliminar Portugal na qualificação (5-0 em Praga, 1-1 nas Antas) e a favorita Holanda nas meias-finais (3-1 após prolongamento). Os checoslovacos chegam ao 2-0 antes dos 25 minutos, por Svehlik (8’) mais Dobias (24’), e consentem o empate dos sempre abnegados alemães no derradeiro instante, por Holzenbein, depois de Dieter Müller (28’).
O prolongamento passa-se, dessa vez, sem novidades e a final é levada para o inédito desempate de grandes penalidades. Aqui, prevalece a pontaria e loucura dos checos. Dizemos loucura porque Panenka, na hora da verdade, não se intimida com o calmeirão Sepp Maier e faz-lhe um pequeno chapéu. Para Pelé, “ou Panenka estava louco ou era um predestinado para o futebol.” Viktor, o guarda-redes checo da final, é de outra opinião: “Panenka era uma mistura dos dois.”
1980 RFA 2:1 Bélgica
Ao contrário de Dinamarca-1992 e Grécia-2004, o conto de fadas da Bélgica no Euro-80 não acaba em vitória, embora sobrem aplausos e bom futebol. Antes de se iniciar a fase de qualificação, os belgas só têm duas vitórias oficiais em toda a sua história. Sob a direcção do ilustre Guy Thys, a história é outra.
Com o aparecimento de jogadores de indiscutível classe como o guarda-redes Jean-Marie Pfaff, o lateral-direito Eric Gerets, o elegante René Vandereycken e o imprevisível Jan Ceulemans, a Bélgica dá um enorme salto qualitativo e apura-se sem qualquer derrota, com quatro vitórias (2-0 a Portugal em Bruxelas) e outros quatro empates (1-1 na Luz). Na estreia do Euro, em Turim, o inglês Ray Wilkins faz o 1-0 e Vandereycken responde três minutos depois. O empate é ruidosamente festejado pelos adeptos italianos que motivam uma resposta dos ingleses, colocados numa outra bancada e, ainda assim, acessível para o lançamento de objectos. A polícia não vai de modas e trava o hooliganismo com gás lacrimogéneo.
Por seis minutos, ninguém consegue jogar. Aliás, o guarda-redes inglês Ray Clemence fica momentaneamente cego. Na partida seguinte, a Bélgica ganha 2-1 à Espanha e a Itália despacha a Inglaterra (1-0). Significa isto que a terceira jornada entre italianos e belgas em Roma será o tudo ou nada. Aí, o 0-0 apitado por António Garrido acaba por servir aos belgas, pois embora em igualdade pontual (4) e na diferença de golos (1), beneficiam da terceira regra de desempate: mais golos marcados (3 contra 2). Assim, teríamos RFA e Bélgica na final de Roma. Tal como em 1972, em que Gerd Müller bisa com a URSS (3-0), aqui também um jogador faz a diferença: Hrubesch. O número 9 marca aos 10 minutos numa desmarcação primorosa de Bernd Schuster, então o benjamim da final e até do Europeu, com 18 anos de idade.
Vandereycken empata aos 72’, de penálti – inexistente, por sinal, a castigar uma falta de Stielike fora da área. Quando tudo se conjuga para o prolongamento, Rummenigge marca um canto ao segundo poste, onde aparece Hrubesch a saltar num mar de gente e a cabecear para o fundo da baliza de Pfaff. Na conferência de imprensa, Guy Thys é um homem satisfeito. “Praticámos futebol honesto e fomos recompensados com a ida à final. Aqui perdemos com a melhor equipa da actualidade. Se fossemos a prolongamento, outra história se contaria porque estávamos mais frescos que eles, mas paciência.”
Antes de sair da sala, um italiano pergunta-lhe o que acha de Bearzot, o seleccionador da Itália, ter dito que a exibição da Bélgica com a RFA reforçara a ideia de que a Itália é que merecia estar ali. A resposta é tremenda. “Meu caro, para os italianos talvez, mas o adepto objectivo e o telespectador devem agradecer a presença da Bélgica na final, caso contrário seria um aborrecimento infinito.” Bastaria ver o terceiro e quatro lugares, entre Itália e Checoslováquia: 0-0 e maratona de 18 penáltis.
1984 França 2:0 Espanha
Acabado o Espanha-82 com o quarto lugar no Mundial, a França carrega baterias para o seu Europeu. É a oportunidade ideal para a geração de ouro deixar a sua marca (Bats, Amoros, Giresse, Tigana, Fernández, Lacombe e Platini).
Durante um ano e meio, a selecção francesa mostra-se à Europa. Em Fevereiro 1983, por exemplo, vai a Guimarães e toma lá 3-0 a Portugal, assim sem contemplações. A RFA é vergada (1-0) em Estrasburgo, a Inglaterra (2-0) em Paris, a Holanda (2-1) em Roterdão. Só Dinamarca (1-3), Bélgica (1-1), Jugoslávia (0-0) e Espanha (1-1) aguentam o furacão. Coincidência das coincidências, Dinamarca (1-0), Bélgica (5-0) e Jugoslávia (3- 2) fazem parte do grupo da França na fase final.
O capitão Platini marca sete golos nesses três jogos, e mais um na meia-final com Portugal. Chega-se à final de Paris e lá está a Espanha. Em Outubro, naquele mesmo Parque dos Príncipes, um penálti de Señor garantira o empate a sete minutos do fim. Em Junho do ano seguinte, tal proeza não é possível de reeditar. A Espanha até surpreende a mandar no jogo durante a primeira parte. Sem a magia de Platini, bem marcado por Camacho, a figura francesa do jogo chama-se Battiston, o pronto socorro que salva sobre a linha um golo de cabeça de Santillana. Alertados para o facto, os franceses nem assim conseguem desenvolver o seu futebol ofensivo e só mesmo o árbitro checoslovaco Vojtech Christov chega para acalmar os espanhóis com um exagerado festival de cartões amarelos para Víctor, Julio Alberto, Gallego e Carrasco.
Como se isso não bastasse, Christov vê falta num lance normal entre Salva e Lacombe. Ali perto da grande área, na zona de Platini, portanto. Aos 57 minutos, o número 10 francês remata ao poste mais distante para contornar a barreira, mas sem convicção, e ninguém acredita no golo. O guarda-redes Arconada tem a situação mais do que controlada, só que espalma o seu peito contra a bola e esta resvala para dentro da baliza. Um presente de capitão para capitão, 1-0. A Espanha vai-se abaixo e consente ataques contínuos da agora-mais-que-animada-França. Lacombe (contra o corpo de Arconada), Giresse (por cima) e Platini (de cabeça, ao lado) quase sentenciam a final, entretanto jogada 10 x 11 por expulsão do francês Le Roux aos 85 minutos, a castigar falta sobre Sarabia.
Nem em superioridade numérica os espanhóis incomodam Bats e é a França a chegar ao 2-0 no último minuto por Bellone. Chegada a este Europeu através da impensável goleada 12-1 sobre Malta no último jogo de qualificação para desalojar a Holanda do primeiro lugar pela regra dos golos marcados (24-22), a Espanha só voltaria à final de um Europeu em 2008. Ao 1-0 à Alemanha, segue-se a subida à tribuna de honra. O terceiro guarda-redes Palop veste uma camisola a dizer Arconada nas costas, sobe as escadas e recebe a medalha das mãos de Platini, presidente da UEFA.
1988 Holanda 2:0 URSS
É raro uma selecção ter a oportunidade de emendar a história. À Holanda sai-lhe o brinde. Recuemos então no tempo, para o 25 Junho 1978. Em Buenos Aires, empate 1-1 na final do Mundial com a Argentina quando Rensenbrink cabeceia e acerta no poste no último minuto. O jogo vai a prolongamento e os anfitriões ganham 3-1.
Avancemos agora dez anos. Para o 25 Junho 1988. Em Munique, 35 mil holandeses no Olímpico e mais nove mil fora do estádio cantam alegremente. É a imprevisibilidade holandesa contra o rigor soviético, implementado pelo seleccionador Lobanovski. Na fase de grupos, um fantástico golo de Rats a Van Breukelen arruma a questão a favor da URSS, que então tropeça com a Irlanda (1-1) antes de desfazer Inglaterra (3-1) mais Itália (2-0), esta última nas meias-finais com uma exibição perfeita, 65 por cento de posse de bola e a alcunha de futebol de 2000.
Os holandeses encaixam a derrota com a URSS e partem para uma aventura fantástica: 3-1 à Inglaterra, 1-0 à Irlanda e 2-1 à anfitriã RFA nas meias-finais, com golo de Van Basten no derradeiro minuto. Munique, aí vamos nós. Sem o central Kuznetsov, suspenso por ter visto dois amarelos, Lobanovski equivoca-se no onze e mete o médio Aleinikov a marcar o goleador Van Basten. A URSS perde fulgor ofensivo e disso se aproveita a Holanda para se assenhorar do jogo. Aos 31 minutos, livre frontal à entrada da área dos soviéticos. Gullit pica a bola por cima da barreira e Dasaev opõe-se com grande estilo. É canto. Marca Erwin Koeman ao primeiro poste, a bola é rechaçada para o mesmo Koeman e este cruza para Van Basten que, de cabeça, oferece o 1- -0 a Gullit. Também de cabeça, o 10 laranja fuzila Dasaev. É o delírio em Munique.
A URSS recompõe-se, claro. Mikhailichenko trabalha bem na área com dois nós cegos a Van Aerle e oferece o empate a Belanov, cuja bola sai torta, muito por cima. Na segunda parte, o avançado estaria duplamente desastrado. Antes, é obrigatório falar do golo do torneio e (porque não?) da história dos Europeus. Aos 52 minutos, Van Tiggelen recupera a bola no seu meio-campo, lateraliza para Mühren e este cruza para o interior da área, onde está um implacável Van Basten. De ângulo impossível, sem deixar cair a bola e todo no ar, qual bailarino, o 12 da Holanda faz o 2-0 perante o atarantado Dasaev.
Bola ao meio e a URSS parte furiosamente para o ataque. Belanov atira ao poste aos 55’ e ainda tem outra oportunidade de ouro, quando Van Breukelen faz um penálti desnecessário sobre Gotsmanov. À distância de 11 metros e com todo o tempo do mundo, Belanov atira para a sua esquerda e Van Breukelen repele a bola com os punhos. Em menos de um mês, o guarda-redes holandês garante a Taça dos Campeões ao PSV Eindhoven com a defesa ao penálti de Veloso e agora “isto”. Rinus Michels, finalista vencido do Mundial-74 em Munique, vinga-se enquanto a Holanda ganha finalmente um título. O único.
1992 Dinamarca 2:0 Alemanha
“Se Brian Laudrup fosse uma mulher, casava-me com ele.” Os jornalistas calam-se, o alemão Stefan Effenberg sorri. No dia seguinte, o dinamarquês Brian não desata o nó. “Ele quis-me tanto na Fiorentina que acabou por me convencer”. O ambiente está desanuviado, como se vê.
Companheiros de equipa no Bayern desde 1990, Brian e Stefan assinam pela Fiorentina. Coincidência das coincidências, naquela sexta-feira 26 Junho 1992, os dois apresentam-se em campo como rivais. É a final do Euro-92 entre a favorita Alemanha e a surpreendente Dinamarca. Antes de o jogo começar, os dinamarqueses entoam o “we are the champions” nas bancadas do Ullevi de Gotemburgo.
A equipa convidada à última hora para o lugar da Jugoslávia (sancionada pela UEFA no seguimento da sangrenta guerra dos Balcãs) junta uma série de jogadores de férias (menos o capitão Michael Laudrup, de candeias às avessas com o seleccionador Richard Möller-Nielsen) e começa a jogar. Na estreia, empata a Inglaterra (0-0). Depois, perde com a anfitriã Suécia (0-1). No jogo do tudo ou nada vence 2-1 a França de Papin e Cantona, treinada por Platini, cem por cento vitoriosa na fase de qualificação. Primeira surpresa.
E última? Qual quê! Nas meia-final, a campeã europeia Holanda é eliminada nos penáltis, com Schmeichel a adivinhar o remate de Van Basten. Segunda surpresa. E última? Qual quê! A Dinamarca é o tomba-gigantes da moda. Aos 19 minutos, Flemming Povlsen ganha uma bola a Brehme, escapa-se pela esquerda e atrasa para o bico da área, onde aparece de rompante John “Faxe“ Jensen para desferir um formidável pontapé de primeira. A bola sai-lhe do pé como um míssil e balança as redes de Illgner. Atrás dessa baliza, os adeptos dinamarqueses mudam o disco. Trocam o “we are the champions” pelo “auf wiedersehen Deutschland”.
O intervalo chega e o seleccionador Vogts faz entrar o proscrito Doll para o lugar de Sammer. Nada feito, a Dinamarca continua mais perto do golo, por Vilfort. O homem que falha um dos jogos do Europeu para regressar a casa e assistir a filha de sete anos com leucemia não conclui uma jogada de Laudrup (71’) e proporciona o contra-ataque alemão, com Nielsen a salvar o 1-1 de Riedle (72’) antes de Schmeichel fazer a defesa da tarde a remate do mesmo Riedle (73’).
A Alemanha pressiona, sem arte, e parece mesmo que Vogts será o primeiro homem a juntar o título de vice-campeão europeu como jogador (1976) e seleccionador. Essa ideia confirma-se aos 79 minutos, com o 2-0 de Vilfort. É verdade que o toque involuntário com a mão coloca-lhe a bola à frente, nas barbas de Illgner, mas o momento é tão mágico que o árbitro suíço Bruno Galler nada assinala. O cântico do “we are the champions” volta a ser ouvido na Suécia enquanto Laudrup (Brian, quem havia de ser?) troca de camisola com Effenberg. Tudo está bem quando acaba bem.
1996 Alemanha 2:1 Rep. Checa
Berti Vogts, primeiro homem a perder uma final do Europeu como jogador (1976) e seleccionador (1992). Berti Vogts, outra vez, primeiro homem a ganhar uma final do Europeu como jogador (1972) e seleccionador (1996). Quem é alemão, arrisca-se a entrar na história – mesmo que só à segunda tentativa.
Veja-se o caso de Franz Beckenbauer, primeiro homem a perder uma final do Mundial como jogador (1966) e seleccionador (1986) e também o primeiro a ganhá-la nessa dupla condição (1974-1990). Falámos de 1966 e vale a pena explorar esse ano, o do Mundial em Inglaterra. Ganho pelos anfitriões numa final com a então RFA, só decidida no prolongamento (4-2). Trinta anos depois, o futebol volta a casa (é esse pelo menos o slogan do Euro-96) e Wembley acolhe de novo a partida decisiva.
Na tribuna VIP, a Rainha Isabel II chega a tempo e horas, como há 30 anos, mas já sabe de antemão que não vai entregar a taça aos seus compatriotas. Simplesmente porque a Inglaterra não entra nestas contas. Eliminados pelos alemães nos penáltis das meias-finais, os ingleses ainda estão deprimidos quando o árbitro italiano Pierluigi Pairetto apita para o fim do encontro ao 95.º minuto. Noventa e cinco, mas como 95?
É uma invenção (inovação?!) chamada morte súbita: quem marca, ganha. E os alemães não perdoam, através do suplente Oliver Bierhoff, que substitui Mehmet Scholl aos 69 minutos. Por essa altura, já os checos ganham 1-0, cortesia de um penálti cavado por Karel Poborsky e transformado por Patrik Berger (59’). Sem alaridos nem protestos, a Alemanha avança no campo à procura do empate.
Aos 73’, um livre de Christian Ziege apanha Petr Kouba indeciso e Bierhoff cabeceia à vontade (1-1). No último minuto, os checos falham o 2-1. O avançado Vladimir Smicer, que se casara há 48 horas em Praga, com a permissão do seleccionador Dusan Uhrin, vê o seu remate ser desviado superiormente por Andreas Köpke. Vamos ter prolongamento. Que só demora cinco minutos. Cortesia Kouba. O guarda-redes checo tem a trajectória da bola controlada e deixa-a escapar por entre as mãos, após um remate em esforço de Bierhoff à entrada da área.
Já vencedor do jogo na fase de grupos (2-0), a Alemanha repete o triunfo sobre a recém-criada República Checa, que eliminara Portugal nos quartos-de-final com o chapéu de Poborsky e a França nos penáltis das meias-finais. No campo, a frustração dos checos é evidente (há até protestos de alguns jogadores porque um dos bandeirinhas assinala fora-de-jogo posicional de Kuntz no 2-1), tal como a alegria dos tricampeões europeus. Será Bierhoff o herói e Vogts o visionário? Um pouco dos dois, sobretudo a voz da consciência de Monika Vogts. Quem? A mulher de Berti. De férias em Veneza antes do Euro-96, Berti está com a cabeça na lua. Um cêntimo pelos seus pensamentos. Há dúvidas quanto à convocatória do terceiro avançado. “Leva o Bierhoff, ele recompensar-te-á.” Moral da história: Monika é que devia entregar a taça, e não a Rainha Isabel II.
2000 França 2:1 Itália
Nunca uma selecção acumula os títulos de campeã mundial com o de europeia. É como se fizesse parte da tradição, uma espécie de malapata. Buuhhhh, fantasmas etc. e tal. A RFA está lá perto em 1976 e perde a final do Europeu com o tal penálti de Panenka (Checoslováquia). Já estamos perto do fim do século XX e só se fala do bug do milénio ali e aqui. Isso é para valer ou é só marketing? Hum…
A UEFA atribui o primeiro Europeu conjunto, à Holanda/Bélgica. A sensação é Portugal de Humberto Coelho, eliminado nas meias-finais pela França. No dia seguinte, a anfitriã Holanda comete a proeza de falhar cinco penáltis (dois nos 90 minutos e três no desempate) e perder vs Itália, reduzida a dez homens ainda na primeira parte. O De Kuip, mais conhecido como a banheira de Roterdão, é então o palco da final do Euro-2000 entre França e Itália.
Campeão europeu como jogador em 1968, Dino Zoff é agora o seleccionador italiano e muda completamente o esquema táctico na noite de domingo, 2 Julho. Sai Del Piero e aposta na dupla de avançados romanistas (Marco Delvecchio e Francesco Totti), além de marcar Zinedine Zidane com a classe indiscutível de Demetrio Albertini. A audácia garante-lhe o domínio absoluto da partida. A Itália não é mais o detestável catenaccio e joga ao ataque como se não houvesse amanhã. Assim, sim. Do outro lado, a bússola Zidane está perra e a França desaparece do mapa.
Na segunda parte, mais do mesmo. Zoff tira Fiore e coloca Del Piero aos 53 minutos. Com três avançados, os italianos encostam os franceses às boxes e o golo nem demora 200 segundos. Passe de calcanhar para a entrada de Pessotto pelo lado direito, cruzamento rasteiro para o interior da área e Delvecchio a atirar sem oposição para o 1-0.
Lemerre, substituto de Jacquet no comando da França pós-título de campeão mundial em 1998, troca o frouxo Dugarry pelo velocista Wiltord e não é que é este o autor do empate aos 90’+4. O árbitro sueco Anders Frisk está com o apito na boca quando Barthez despeja a bola para o meio-campo contrário. Há um ressalto, uma finta, um cruzamento e o pontapé de Wiltord por entre as pernas de Francesco Toldo.
Um-um e prolongamento. Já não é uma questão de pernas, e sim de ânimo – ou falta dele. A Itália está destroçada, a França revigorada. Pires obriga Toldo à defesa da noite aos 94 minutos antes do golpe da misericórdia aos 103’. Um outro cruzamento da esquerda de Pires vai ter com Trezeguet (substituto de Djorkaeff aos 76’) e o avançado da Juventus (ironia das ironias) atira de primeira. A bola entra junto à trave e finito. Pelo segundo Europeu seguido, o golo dourado dita o vencedor. Pela primeira vez na História, um campeão mundial é campeão europeu dois anos depois. É o bug do milénio.
2004 Portugal 0:1 Grécia
Aaaaaaarghhhhhhh, que desilusão tremenda. Na maior enchete do Europeu, com 62.865 espectadores na Luz, a Grécia repete a graça do jogo de abertura, no Dragão (2-1), e prolonga a desgraça de Portugal com o 1-0 na Luz. Cortesia de Otto Rehhagel (seleccionador alemão da Grécia) acaba a noite aos saltos e volta a ganhar uma competição em Lisboa, na Luz, após a conquista da Taça das Taças pelo Werder Bremen em 1992. Até ao intervalo, só uma saída de Ricardo aos pés de Vryzas e uma defesa de Nikopolidis a remate de longe de Pauleta merecem nota de realce. Na segunda parte, o golo de cabeça de Charisteas.
Com história, claro. Os treinos da selecção nos dias anteriores incluem a marcação individual nos cantos da Grécia, uma especialidade de Rehhagel. A táctica está acertada, Jorge Andrade marca Charisteas. E está certo, calmeirão com calmeirão. Pouco antes do jogo, Jorge Andrade e Costinha trocam impressões e sugerem uma troca a Scolari. O brasileiro concorda. Passa a ser Costinha a marcar Charisteas. E, pronto, é isto.
Adiante. Portugal agita-se. Finalmente. Saem remates de Ronaldo, Figo e Ricardo Carvalho para defesas de Nikopolidis mais uns de Deco mais Rui Costa ao lado. Perto do fim, Figo dribla dois gregos dentro da área e remata como quem não quer a coisa, só que a bola bate na ponta da bota de Fyssas e sai a rasar o poste. Ligeiramente antes, o famoso streaker Jimmy Jump ludibria a segurança e entra em campo para atirar uma bandeira do Barcelona à cara do impávido Figo.
2008 Espanha 1:0 Alemanha
Campeão brasileiro em 1999 e mundial em 2000 pelo Corinthians, o nome de Marcos Senna passa despercebido no meio dessas conquistas. Quase sempre suplente utilizado, o médio é então vendido ao São Caetano e é aí que se esmera, basta-lhe um ano em cheio (final da Libertadores) para se transferir para um clube europeu.
Chega ao Villarreal em 2002 e demora dois anos para ser levado a sério como reforço. Duas lesões seguidas no joelho direito impedem-no de dar sequência ao trabalho no Brasil e só em 2004/05 é que começa a ser reconhecido pela imprensa espanhola como um valor acrescentado. Tanto assim é que o seleccionador Aragonés convoca-o para o particular com a Costa do Marfim, a 1 Abril 2006. Encaixa-se tão bem que vai ao Mundial desse ano e repete a presença no Euro-2008, onde se evidencia como motor do tiki-taka ao lado dos baixinhos Xavi e Iniesta.
Titular indiscutível, Senna é nomeado pela UEFA para a equipa ideal e é o primeiro brasileiro a conquistar o Europeu. Todo o jogo defensivo começa nele e só depois a bola passa para Xavi. É aliás assim que começa a aventura espanhola na final de Viena. Uma deliciosa abertura de Xavi para a grande área e Torres a ganhar em velocidade a Lahm antes de fazer um chapéu ao guarda-redes Lehmann.
Com apenas 24 anos, Torres aproveita a lesão de Villa para entrar na história de Espanha. A partir dessa noite, a teoria da fúria espanhola já não faz sentido e é substituída pela do bom futebol. Para estabelecer essa diferença, o terceiro guarda-redes Reina chega a Madrid e apresenta individualmente os heróis. Com o 1, o homem sem mão, o que possibilitou o sonho do Europeu, Ikerrrrr Casillas. Com o 2, a maior salsicha do mundo, Albiol. Com o 3, o javali júnior, o genuíno Fernandoooo Navarro Com o 4, o chefe da defesa, o inigualáááááável Marchena. Com o 5, o Tarzan que come ananás, Carleeees Puyol, Com o 6, o homem que não vê a luz do sol, Aaaaandréééés Iniesta Com o 7, o pichichi, Guaaaajeee Villa Com o 8, o Humphrey Bogart do futebol espanhol, Xaviiiii. Com o 9, el Niño, ay mi niño! El niño de España! Fernandooooo Torres. Com o 10, o tipo mais despassarado do mundo, Francesc Fàbregas. Com o 11, Garrinchaa Joan Capdevila.
Com o 12, o mais baixo, o mais pequenote, Santiiii Cazorla. Com o 13, ai o 13, aquele que me limpou 500 euros nos penáltis: Andrééés Palop. Com o 14, o filho mais novo de Cruijff, Xabi Alonso. Com o 15, em homenagem a Antonio Puerta, o míticooo Sergioooo Ramos. Com o 16, olha quem… Sergio García. Com o 17, quem é o 17? O autêntico cigano, Daniiii Güiza. Com o 18, o segundo mais despassarado do mundo, Alvaroooo Arbeloa. Com o 19, o samba da equipa, o samba de Espanha: Marcoooos Senna. Com o 20, Juanito, o mais velho. Com o 21, mede 1,50 m, só um 1,50, Daviiiid Silva. Com o 22, Diego Armando Maradona, que classe, que craque: De la Red. Com o 23, um humilde serviçal, que fez de speaker: Pepeeee Reina.
2012 Espanha 4:0 Itália
O goleador do Euro-2008 e do Mundial-2010 está lesionado, e agora? O capitão sem braçadeira lesiona-se, e agora? O lateral esquerdo do Euro-2008 e do Mundial- 2010 está destreinado porque Jesus não vai à bola com ele, e agora? A Espanha apresenta soluções para tudo. Adelante. Okaaay, inventamos um coño qualquer lá na frente. ‘Tá beeem, na ausência do Puyol, puxamos o Sergio Ramos para o meio e jogamos com o Arbeloa, vá. Capquem? Ahhh sim, o amigo da Shakira na final do Mundial-2010. Bem, entra Jordi Alba. Peça por peça, Vicente del Bosque (campeão europeu e mundial em clubes e selecções, inédito e oléééééééé) desmonta e reinventa outra Espanha, igualmente vencedora.
Invencível há 28 jogos no Europeu (qualificação e fase final) desde o 3-2 de Estocolmo em Outubro de 2006, a Espanha domina desde o início. Xavi assusta Buffon antes de Iniesta (1,70 m) desmarcar Fàbregas nas costas de Chiellini, que por sua vez assiste para a entrada fulgurante de cabeça de David Silva (1,70 m). A Itália reage. Prandelli também. Sai Chiellini (lesionado), entra Balzaretti. O lado esquerdo do ataque azzurro começa a criar problemas, Casillas resolve-os à sapatada.
Por falar nele, é o capitão quem inicia a jogada do 2-0, concluída com um soberbo passe de Xavi (1,70 m) na hora h para a corrida de Jordi Alba (1,70 m). Na cara de Buffon, dois-zero. Chega o intervalo e com ele a grande surpresa: a Itália tem mais passes (249) que a Espanha (247). Deve ser inédito. A segunda parte começa com a Itália a mandar. Os primeiros 45/50 segundos. O recém-entrado Di Natale cabeceia por cima sem oposição. Depois segue-se o vendaval da Espanha, com alguma displicência à mistura. Em dois contra-ataques seguidos, Iniesta entrega mal a bola e perde-se o efeito da goleada.
A Itália ataca sem cabeça e defende com um/dois homens além de Buffon. A Espanha entretém-se a jogar futebol com prazer. E até dá tempo para o 3-0 surgir com naturalidade, obra de Fernando Torres – já cá faltava o número 9 a marcar, depois de Ponedelnik (URSS-1960), Marcelino (Espanha-64), Hrubesch (RFA-80), Charisteas (Grécia-04) e… Torres (Espanha-08). Upss, afinal até há tempo para o 4-0 do suplente Mata, a passe de Torres. O Chelsea em alta e aí está a final mais desnivelada de sempre. Incrível como a Espanha subjuga a Itália da forma mais linear possível.
Quando soa o apito de Pedro Proença, árbitro da final da Liga dos Campeões e do Europeu no mesmo ano (inédito), os jogadores espanhóis continuam a correr. Agora sem bola e agarrados à bandeira espanhola. Casillas levanta a taça (inéd… nã, isto já não é inédito). Finalmente toca em alguma coisa depois de passar 509 minutos sem sofrer golos, desde o 1-0 de Di Natale no jogo inaugural a 10 Junho.
2016 Portugal 1:0 França
Portugal arruma Gales e consegue a primeira (e única) vitória de sempre por dois golos de diferença na era Fernando Santos. Primeiro é Ronaldo com aquele cabeceamento sublime (um salto de 76 centímetros), a cruzamento de Raphaël Guerreiro na sequência de um canto de João Mário. É o seu nono golo em Europeus e isso faz com que apanhe o francês Platini na liderança dos melhores marcadores de sempre da competição. Desses nove golos, cinco são de cabeça. É cada vez mais o rei do jogo aéreo à frente de Shearer, Klose e Charisteas, todos com três. Ainda Gales está meio perdido no campo pelo golo sofrido e toma lá o segundo, por Nani, em esforço, no chão, a desviar um remate de Ronaldo para a baliza. Dois-zero, vamos à final. Só falta decidir o adversário: França ou Alemanha?
Paris, 10 Julho 2016. Sai-nos a França na rifa. Portugal tem a palavra, em pleno Stade de France. Em Outubro 2014, Santos estreia-se ao serviço da selecção com quatro proscritos de Paulo Bento: Tiago, Danny (titulares), Ricardo Carvalho e Quaresma (suplentes). Onde? No Stade de France. É um particular com França. Perdemos 2-1. No balneário, Santos junta os jogadores e… “assumimos um objectivo, traçámos um propósito: o de voltar aqui a Saint-Denis, a 10 Julho.” Meu dito, meu feito. Venha de lá o Maracanazo, s’il vous plaît.
O onze é Patrício, Cédric, Pepe, Fonte, Raphaël, William, Renato, Adrien, João Mário, Nani e Ronaldo. Aos oito minutos, Payet acerta em Ronaldo e o capitão nunca mais é o mesmo. Tem mesmo de ser substituído por Quaresma, aos 25’, e só volta ao relvado na segunda parte para dar apoio aos jogadores desde o banco de suplentes. No prolongamento, mais se parece com o adjunto de Santos a dar instruções de forma energética na área técnica. Ao seu lado, Santos é mais comedido nos gestos. E certeiro na substituição: aos 79’, sai Renato, entra Éder. O avançado faz tudo bem daí em diante: domina bem, passa melhor e ganha faltas. Aos 109’, Moutinho rouba a bola a Griezmann e entrega para Quaresma. O resto é história. De Portugal. O remate de Éder é espontâneo, fora da área. Lloris estica-se todo e não a apanha. É o 1-0.